DAILY DJ
30 anos de História
DAILY DJ
30 anos de História
CAPÍTULO 01 - BORN A DJ
Data: setembro de 1989
Faltando pouco mais de 50 dias para completar 15 anos de idade, já impulsionado pela música eletrônica da época (synthpop, disco e acid house) eu fazia parte de um grupo escoteiro da sociedade beneficente dos subtenentes e sargentos de Blumenau (SUB), no bairro Garcia, anexo ao 23º batalhão de infantaria. Ao lado, havia um terreno (estacionamento) que era locado todo domingo para que o nosso grupo pudesse adquirir verbas ($$$) a fim de comprar materiais e fornecer condições para eventos como acampamentos, materiais e demais atividades. Quem cuidava desse estacionamento era meu pai, chefe e diretor do grupo - Arno Lang (in memorian). Eu ajudei por uns três domingos a balizar os carros e cobrar uma quantia módica nesse estacionamento, até que determinada data, meu pai perguntou se eu queria entrar e dar uma olhada. Nessa época, o SUB já era quase uma segunda casa pra mim, eu cresci ali dentro daquele clube, meus pais faziam parte da diretoria numa época distante, frequentava piscina, judô, musculação, etc. O salão era grande, mas não era aberto, a bilheteria era na porta da frente e as laterais eram fechadas. Única ventilação eram as janelas. Eu fui até elas e fiquei espiando aquele monte de luz piscando, aquele som alto, pulsando, aquele ambiente escuro e cheio de gente se divertindo. Foi ali que tudo iniciou.
No domingo seguinte, lá estava eu, cabelo arrumado, roupa bacana e pronto pra mergulhar nesse mundo. Era 24 de setembro de 1989. Não havia problemas em um menor de idade como eu frequentar aquele local, pois a segurança era feita por sargentos que recebiam extras para trabalhar ali, e praticamente quase todos se conheciam. E tudo era uma tranquilidade, mas caso alguém se passasse, dava jeito de se resolver com os seguranças que tinham mais de 1,80 de altura e eram extremamente fortes, sem contar que por serem militares, colocavam ordem só com sua presença.
Foi ali que conheci um dos meus dois mentores na vida como DJ. O som era comandado por um cara muito descolado, amigo já dos mais pais de longa data, saudoso Nei Leite (in memorian). Aos poucos eu chegava cada vez mais cedo aos domingos e era convidado a subir pra cabine. Algo totalmente diferente de hoje. Não era um palco em que o DJ era o mestre da noite, era um local escondido, com pôsteres de banda de rock do tipo Iron Maiden, capas de playboys, escuro e pouco convidativo. Era uma época em que as potências eram regidas por grandes ventiladores para resfriamento – a tecnologia não ajudava – eu presenciei cenas até engraçadas como fumaça saindo pelas laterais, curto circuito, placas queimadas e gambiarras de todo tipo, como ligar quatro saídas em duas, tudo para não deixar o povo sem curtir o domingo de noite. Este é um detalhe que os mais velhos talvez lembrem, e os novos nunca imaginariam, mas a sensação era realmente o SUB no domingo de noite. Às seis da tarde todo mundo tinha que estar em casa pra tomar banho e às sete a fila já era grande. A gente não imaginava como seria passar um domingo assistindo "Os Trapalhões" e "Fantástico". Domingo era dia de SUB e ponto final.
Então com isso tudo, aprendi alguns macetes sobre equipamentos da época, caixas de retorno, misturadores (que chamamos hoje de mixer...rss), toca discos, potência, crossover, equalizadores e claro, uma quantidade enorme de discos de vinil (e o calor infernal que aquelas potências dispersavam).
A cada 3 meses algumas novidades eram lançadas, mas o SUB sempre teve uma veia muito puxada pro synthpop, pop, rock e acid house. O dance propriamente dito como conhecemos hoje - house, techno, trance e suas vertentes - nem eram cogitadas e sequer tinham sido criadas para as nossas pistas (estavam despertando no velho continente). Também não era muito comum o euro, pois batia de frente com a discoteca do Centenário - outro clube próximo que também tinha aos domingos. Cada uma tinha suas características.
Assim que eu chegava, todos os domingos, eu passava metade do tempo na cabine olhando e aprendendo sobre tudo, inclusive quanto tocar a melhor, quando dar uma pausa (tinha música lenta naquela época), quando reiniciar, quando encerrar. Era uma questão de saber construir o clima da pista, não só largar uma música atrás da outra. Falando nisso, esse era o forte do Nei, e não a mixagem.
Em novembro do mesmo ano eu completei meus 15 anos de idade e iniciei a jornada em outra danceteria da cidade, aquela que era considerada a melhor de todas em todos os quesitos. Sim, estamos falando da Rivage. Uma semana após meu aniversário comecei a frequentar a Rivage aos sábados, e domingo ia pro SUB. Dois locais totalmente diferentes em tudo, mas iguais numa coisa: ambos tinham algo que eu estava amando conhecer: a profissão DJ.
CAPÍTULO 02 - BEM VINDOS À RIVAGE
Agora com 15 anos na carteira, era hora de finalmente descobrir aquela que era considerada a melhor do sul do Brasil. Nessa época Blumenau não contava com um sistema de terminais urbanos e os ônibus faziam linhas diretas de bairro pra bairro passando pelo centro. Então pra você se deslocar de determinados pontos da cidade a outros, necessitava descer no centro e pagar outra passagem, quando não era atendido diretamente por uma linha. O único que passava aqui no bairro do Garcia e ia direto pra lá era a linha que saía da Rua da Glória e ia até o Tribess, às 21:50 da noite. Isso quer dizer que se não estivesse no ponto exatamente nesse horário, precisaria pegar um até o centro e de lá esperar até perto das 22h40min pra pegar outro que ia para o bairro da Fortaleza que também passava na frente.
Bom, minha ida foi com amigos que também frequentavam o SUB aos domingos, então não fiquei lá muito perdido. Já havia fila quase na metade do morro pra entrar (era quase sempre assim), então bora enfrentar esse perrengue que no fim valia a pena.
A entrada já dava aquele convite ao sensacional. Seguranças bem apresentados, pessoas descoladas, duas bilheterias para entrar e aquela vistoria básica. Após a entrada, havia um corredor pequeno que dava numa porta por baixo da cabine que saía na pista, e ao mesmo tempo, dava passagem pela esquerda pra um pequeno bar e a saída. Elevados em ambos os lados e um palco ao fundo. Atrás do palco passando pela direita existia o bar "oficial" digamos. E do lado esquerdo do palco uma escada para o restaurante. E lá na frente, uma sacada. Com o passar de alguns anos essa sacada acabou sendo ampliada e criou uma segunda pista, onde mais tarde era a Rave-O-Lution.
A sensação foi indescritível, de ver aquelas caixas de som enormes e batendo forte (muito mais que a do SUB) e a iluminação que era de primeira, com um kripton ao centro. Lembro que as caixas eram brancas. A cabine montada ao alto, elevados cheios de gente e mesas com assentos duplos, do tipo americano. Muitos led's piscando ao fundo (potências). O repertório de sábado era bem específico (dance), com poucos clipes de pop/rock e música lenta também. Nas sextas feiras o público era diferente, tocava mais pop-rock e synthpop. Aos domingos era basicamente o que tocava no sábado com algumas pequenas diferenças. Sempre com DJ's se revezando (Binho e Mazinho). O Binho (in memorian) parecia ser o cara mais centrado, mas de sorriso fácil nunca deixava de cumprimentar alguém ou fazia sempre uma piada pra quem estava perto quando estava tocando, como por exemplo onde estava o vinil, porque ele estava sujo, não consigo escutar direito, ou essa virada é difícil..rss... O iluminador era sempre uma figura muito ligada aos efeitos e muito competente. Fabrício era uma figura carimbada e acabamos fazendo amizade ao longo do tempo que frequentei. Lá pelas tantas perto da meio noite e meia houve uma pausa na música - coisa que jamais tinha visto antes. Luzes ascenderam, todos olharam pra cabine e ouviu-se um "Boa noite a todos, sejam bem vindos à Rivage"... sim, aquele bordão se repetia por todas as noites. Raulino era proprietário e fazia questão de abrir a noite. Fazia os convites e anúncios da agenda e depois dali, vinha o "show de iluminação" que mostrava porque era uma das melhores casas do sul do Brasil. Lá vinha vinheta... Riiiiivvvaaaaaagggeee...
Lembro que uma das músicas que mais tocou nessa época na apresentação das luzes era Celine - Don't Stop... sim aquela mesma - get on it! ... e como levei tempo pra baixar essa música!!! Depois dali era praticamente descer o sarrafo... só vinha pauleira (as melhores).
A ida para casa era uma aventura. Ainda nessa época existiam dois ônibus que saíam da Rivage. Um deles tinha destino final o Garcia passando por outros 3 bairros da cidade e o centro, enquanto outro tinha destinos nos bairros da Velha, Água Verde, Vila Nova. Então era garantia de estar em casa às 6h da manhã, ou então esperar o primeiro ônibus de domingo da linha normal que saía às 7h e pegar outro no centro até em casa, chegando perto das 8h. Ou então, nas últimas, caminhar dali até em casa (o que acabei fazendo umas 4 vezes)...rss.. dormir dentro do ônibus também era uma normalidade.
A parte legal de ir no sábado é que se você entrasse até as 23h, ganhava um ingresso pra domingo (até as 20h). Eu acabei guardando muitos, mas perdi a pasta que tinha guardado.
Enfim, a partir dali, os meus fins e semana se limitavam a sábados de Rivage e domingo de SUB.
Foto: Arquivo Fabrício Garcia
CAPÍTULO 03 - SONIC
Aqui nasce um apelido que me companha até hoje.
Ainda em meados de 1992, eu estava atrasado pedagogicamente, quando fui estudar no período noturno no Colégio Pedro II em Blumenau, para terminar a antiga 8ª Série, trabalhando de dia na loja dos meus tios (que haviam comprado dos meus pais). Nessa ocasião, no fim da aula, nós pegávamos um ônibus que saía da Alameda no centro da cidade e vinha direto pro Garcia, mais precisamente Progresso. Nós éramos uma turma muito grande, e a bagunça era generalizada dentro desse ônibus. Ali nessa época eu já arriscava algumas festas de aniversário de amigos, levando dois toca discos (3x1) da Gradiente e meus discos de vinil com mais alguns emprestados dos donos da festa. Certamente eu não tinha ainda um apelido ou nome profissional.
Foi então que certa noite apareci de cabelo curto, usando gel, parecendo mesmo uns espinhos. Dessa turma, quase todos tinham um apelido, e quase nunca nos chamávamos pelo nome. Lá pelas tantas apareceu uma garota com a camisa do Sonic (game era novidade) quando meus amigos olharam pra camisa dela e pro meu cabelo, saindo naturalmente aquela risada, já demarcando então oficialmente meu apelido. Apesar das pequenas festas de amigos que eu tocava, Sonic era um apelido pessoal e ainda não havia oficialmente declarado como DJ
Daquela data em diante houveram épocas que eu quase nem escutava mais meu nome. O pseudônimo de Sonic era diariamente declarado.
No ano seguinte fui voluntário no serviço militar, já que tinha passado 6 anos no grupo escoteiro Aruaque, que tinha sede na Sociedade que eu frequentava (SUB).
A parte triste é que não tínhamos tecnologia suficiente para registrar tudo como é hoje. Sem celulares, as câmeras fotográficas eram analógicas e os filmes para revelar eram caros com 12 ou 24 poses, a gravação de vídeos era realizada apenas com câmeras pesadas com fitas VHS e as edições somente com profissionais. Os equipamentos de som também eram limitados a marcas tradicionais como Gradiente, Cygnus ou Phillips. Não se enganem quem imagina que Gradiente é uma marca obsoleta em muitos quesitos, pois nos anos 80 muitos bons módulos de som eram dessa marca e tinham potentes receivers com caixas muitos boas para festas. Várias danceterias possuíam Gradiente ou Cygnus.
Daqui até 2006 Sonic foi representado como sendo um DJ versátil, sempre à procura de novidades na cena que nascia.
CAPÍTULO 04 - UM DJ NOVO NA RIVAGE, UM CURSO E A PROMESSA DE CARREIRA PROFISSIONAL
O ano de 1993 ainda traria muitas coisas bacanas fora o serviço militar (fui voluntário). A saída do DJ Mazinho da Rivage e a chegada de uma figura muito importante pra noite de Blumenau e região. MC Jack chegou '"causando" e fazendo amigos em diversos momentos e locais.
Já em fevereiro de 1994 iniciei meus estudos no ensino médio noturno - supletivo - pois estava atrasado demais. Trabalhando de dia e estudando de noite sobrava os fins de semana pra encarar algumas festinhas. Eu soube de um curso para DJ na cidade, mas eu tinha perdido a informação - não sabia que era do Jack. Certa noite de sábado lá pro fim do ano de 94 eu estava na Rivage e troquei algumas ideias com ele sobre a profissão e como eu queria trilhar esse caminho. Eu sabia muito pouco, mas a vontade de aprender era grande demais. Foi então que ele deixou um contato avisando que faria outro e lançou o segundo curso de DJ em dezembro. Era a chance!
Foram quatro semanas bem divertidas. Era uma turma de aproximadamente 8 pessoas entre garotos e garotas. Começamos com básico (teroria) pra conhecer o equipamento - Technics SL1200 MKII e mixer. Destrinchar as características de cada peça do equipamento, os discos de vinil, as batidas, compassos (cansamos de contar...rss), mixagem, break, intro, out... no fim, estava curtindo muito, com certificado (naquela época era alguma coisa)!!!
Dessa turma fui o único que seguiu carreira.
Em janeiro de 95 veio a oportunidade. Estava conversando com meu amigo de infância Christian quando ouvi dele que seu antigo colega de trabalho do banco ia fazer uma parceria e abrir um bar dance na cidade. O local? Antigo Café de Berlim. Foi dois toques e eu estava lá uma tarde pra conversar com os donos sobre uma vaga pra DJ. Claro que com a indicação, eles deram uma atenção devida, mas queriam ver o resultado.
Fiz um teste com outros 2 DJ's e confesso que estava apreensivo, mas muito confiante. A proposta do bar-dance era tocar de tudo, desde dance, pop, rock, reggae... na noite pré inauguração um deles ficava mais fora da cabine que dentro, queria beber demais, exigiu um litro de whisky. O segundo queria tocar um repertório um pouco diferente da proposta do bar, e no fim exigiu um cachê muito alto e bebida free. Bom, o que eu poderia oferecer? Aceitar a proposta da época de salário (que não era ruim), 1 litro de whisky ou vodka por mês por conta da casa e tocar o que a casa pedia. Nada de mal, tudo estava perfeito. Pra dar uma força nos primeiros 2 meses o Guigui (irmão do Nei - SUB) ajudou a tocar a noite comigo. Parceria forte onde aprendi também muita coisa.
Nesse momento, em março de 1995, da junção do apelido pessoal e a profissão, nasceu o DJ Sonic (o cabelo continuava o mesmo).
Nessa época estava terminando o terceirão, chegava nas aulas de sexta-feira com bag de discos juntos dos cadernos, e as duas últimas aulas de física que davam aquele sono chato... saindo 15min antes do sinal era só ir pro Liberté a pé mesmo, pois era a 15 minutos dali. Pelo menos minhas notas foram altas....rss.
Dali foram mais 8 meses até o fim do ano quando mudamos as propostas do bar e a saída de um dos sócios. Muitas festas temáticas, de universidade, de grupos de amigos, shows de bandas como os saudosos "Harry's", "Vlad V", "Ambos os 2" e demais conjuntos da região. Tínhamos além da pista uma área ao ar livre na parte de trás com palco e espaço para 300 pessoas.
A concorrência era até legal. Às quintas-feiras ninguém batia o Camorra, mas a gente tinha que lutar contra o Coliseum na Alameda nas sextas e sábados. Eram 3 bar-dance com uma proposta muito parecida. Afinal tinha pra todos os gostos na cidade.
Após a minha saída do Liberté Bar em novembro de 95, iniciei a carreira solo. A cidade transpirava festas por todos os cantos...
CAPÍTULO 05 - AS PRIMEIRAS RAVES DA CIDADE
1996 e o termo Rave estava brotando no meio dos DJ's que tocavam um perfil de música muito diferente daqueles das pistas. Costumávamos chamar de Underground. Necessariamente eram as raízes do Jungle (mais tarde DNB), Techno Schranz e algumas variantes como Hardtrance e Tribal House. Não era o Ítalo-Dance que todos estavam acostumados a ouvir. Para muitos, tinha um som de "barulho" e pouca melodia.
O próprio nome Rave era cogitado como uma festa (geralmente outdoor), longe dos centros urbanos, dedicada aos sons experimentais - ou aqui, o Underground. Eram festas montadas e elaboradas por pessoas que faziam parte do meio artístico, muitas vezes patrocinando ou ajudando a criar a atmosfera da festa. Não era cobrada entrada (ingresso) como hoje em dia, nem era feita propaganda - tudo era no boca-a-boca, isto é, um amigo convidava outro amigo, que convidava outro, que convidava outro... Porém, mais que curtir, as raves traziam à tona um problema já conhecido e difundido no velho continente: o uso de drogas sintéticas. Obviamente quem curtia esse tipo de evento não queria relaxar, mas queria ter energia para curtir horas e horas ininterruptas do que a música eletrônica experimental tinha de melhor. Então a partir disso, houve uma brincadeira de gato e rato entre ravers e polícia local. Adianto para que nesta época, não existia a lei do silêncio, mas para determinados clubes era respeitado o nível estabelecido pela lei vigente.
Já em Blumenau, a primeira rave intitulada Space Invaders ocorreu na localidade do bairro Ribeirão Fresco, com DJ's locais, numa garagem improvisada. Sonic, Chalito, Bisnaga, Mental Giu, e Binho d Lua foram os precursores desse que seria o pontapé inicial da revolução musical na cidade. Meses mais tarde a primeira rave em danceteria na cidade (indoor) ocorreu na antiga Cervejaria Continental, onde os DJ's Vieira e Golden eram residentes. O seu nome? Love Parade - em homenagem à maior rave outdoor até aquele momento que ocorria em Berlim, Alemanha, onde quase 1 milhão de pessoas passavam na Kurfürstendamm atrás de grandes trios elétricos.
Agora estabelecida as raves na cidade, em poucas semanas a Rivage lançou sua versão, intitulada Rave-O-Lution, aquela que viria a ser considerada uma das melhores raves do Sul, tanto em qualidade musical, artística e visual. A partir de então, a pista 2 era palco dos melhores DJ's do Brasil, com público descolado, de cabelos coloridos, roupas diferentes e muita música eletrônica de qualidade.
Por falar em musica eletrônica de qualidade, foi ainda no fim de 96 que tive contato por acaso com um CD, cujo som era acelerado, barulhento, muito diferente do que a gente estava acostumado a ouvir. Seu nome era Terrordome. A primeira track de hardcore (eles chamavam de techno) que escutei foi Technohead - I wanna be a hippy. Sim, era o que chamamos de HARDCORE!!! Aqui cabe um parênteses que à época de lançamento da Rave-O-Lution, o DJ residente era o Chalito, que após o convidado deixar a cabine, tocava hardcore. Nessa época eu já escutava e curtia demais esse estilo.
Daqui, até meados de 2005 as raves estiveram presentes na cidade em vários locais, desde clubes, danceterias, sítios, etc... e no encalço o governo do estado que por lei, havia proibido as festas denominadas raves, por conta das drogas (pré-conceito)...
Blumenau foi o centro de criação das raves no vale do Itajaí e litoral.
CAPÍTULO 06 - AS MUDANÇAS RADICAIS NO SUB AOS DOMINGOS -
UM "EMPURRÃO" PARA O SUCESSO...
Embora o SUB fosse uma danceteria dentro de um clube, muito restrito a alguns itens como reformas constantes nas suas instalações, renovação de som e luzes e equipamentos de som, parecia muito óbvio que algo deveria ser feito. Já nessa época o DJ não era mais o Nei, e me chateava demais ver aquilo ser repetitivo todos os domingos, as mesmas músicas, quase no mesmo horário. Nisso eu já possuía uma quantidade significativa de discos de vinil de boa qualidade. A única maneira de saber o que estava tocando de melhor era acompanhar as revistas DJ Sound que à época tinha playlists de várias danceterias pelo Brasil, incluindo a Rivage. Então, o que estava ali era quase sucesso garantido. Porém o SUB tinha algo de diferente. Sempre foi regido pelo synthpop, acid house e pop com pequenas incursões no ítalo-disco, e fazer a inclusão de músicas novas - um pouco mais pesadas e impactantes que o synthpop e o acid house - era um risco demasiado e perigoso. Poderia enfim abrir um buraco na pista que não houvesse mais como consertar, e com o tempo, poderia fazer o público perder o gosto pelo espaço. Mas nada era mais revoltante que saber que a mesmice da playlist de lá estava fazendo este trabalho pouco a pouco.
Foi então que resolvi tomar à frente e arriscar. Num domingo de tarde fiz uma seleção de músicas, que pelo feeling que tenho, acreditei serem importantes para mudar aquele estado de dormência que o SUB vivia.
O disco da dupla 2 Unlimited parecia ter somente uma música (get ready for this), porém eu tinha sugerido virar o disco e tocar Twilight Zone no meio da noite, assim como The Magic Friend. Bom, não preciso dizer que foi sucesso. O mesmo ocorreu com Snap - Rhythm is a dancer, já tão repetitiva, sugeri também tocar Madman's Return mais no começo da noite. Foi outro sucesso.
A grande diferença disso tudo, foi que após 8 ou 10 músicas que tocaram da minha coleção de vinil que levei para eles, todas viraram hit na noite e nunca mais saíram. Trocaram as versões radio que tinham por versões extended. Lembro de ter mencionado para tocarem I'm raving o si nene que junto com Technocop foi outra dupla que fez uma explosão surgir na pista.
A bem da verdade é que na primeira noite, ao terminar, subi na cabine para pegar meus discos de vinil e então ouvi algo inusitado como "ôh Alysson, podes trazer semana que vem eles de novo"? Isso foi simplesmente surreal. Claro que no outro domingo eu tinha levado os discos novamente, com as faixas já marcadas. Na saída alguns colegas tinham me visto com os discos e me perguntaram se as músicas novas que tocaram vieram deles. Eu respondi que sim, e todos já iam pedindo pra trazer de novo. É notório que muita gente que frequentava o SUB como eu, estava saturado da mesmice que se encontrava a seleção musical, sem nenhuma novidade, e todos ficaram extremamente contentes com a mudança, e eu mais ainda!!!
Por 5 ou 6 domingos eu fiquei levando meus discos, a cada semana com uma playlist diferente, pedindo para não repetir as músicas. O público surtava quando vinha algo novo. Esse tempo foi primordial para mudar a cara do SUB aos domingos, dar um novo gás, fazer o público aumentar assim como a qualidade musical. Nesse tempo também eles foram adquirindo os discos, com algumas sugestões que eu fazia. Isso ocorreu por uns 2 meses.
Depois disso, o SUB viveu um tempo de prosperidade, que durou até a saída do DJ Gil e entrada de um outro - um colega que havia sido escolhido (não, não fui eu) para continuar tocando. A diferença era que a playlist voltou a ser repetitiva, sempre as mesmas músicas no mesmo horário, com inclusão de um estilo não ortodoxo das pistas, o rock grunge nacional que nascia. Aos poucos o público foi desistindo, a ponto de contar no dedo quantas pessoas tinham dentro do salão.
Os DJ's do SUB dessa época (antes do fechamento e da grande reforma no começo dos anos 2000) nunca haviam se importado em mixar as músicas, procurar sucessos, inserir novidades, realizar experimentos musicais dedicados ao público, estudar a música e suas vertentes. Era mais um status do que uma profissão séria. Dois deles assumiram o lugar do Nei, um deles quase definhou as noites de domingo, outro conseguiu.
Quase ninguém sabe dessa história, mas eu criei uma revolução musical lá dentro que culminou em vários sucessos aos domingos por alguns anos. O resultado final disso tudo foi ver outras pessoas menos capacitadas assumirem um lugar que por muito tempo foi meu sonho dedicado, apoiado também por muitos conhecidos que frequentavam o clube. Os "tocadores de música" tinham um enorme receio (talvez medo) da minha presença, principalmente quando eu ficava na cabine (até me pediam às vezes pra sair, mesmo porque tinha uma mesa de luz e ninguém mexia nela - até a luz não mudava, às vezes com estrobo ligado direto no pulso mínimo, o que chegava a doer a cabeça e a vista).
Das poucas vezes que me deixavam tocar umas 3 ou 4 músicas (no vinil) e fazendo mixagens boas com escolhas perfeitas, trazia uma enorme insegurança a eles, talvez com medo de perder a posição ou o público perceber que tinha alguém mais capacitado para tocar. Porém, nunca me incomodei com isso, eu não queria tomar o lugar de ninguém, só queria fazer parte do momento, pois havia total condição. Não estou de forma alguma aqui desmerecendo alguém por tentar ser um DJ da sua maneira, apenas me reservo o direito de relatar a verdade que poucos sabem. Eu procurei o profissionalismo acima de tudo, buscando sempre estudar e contribuir com a cena eletrônica da cidade e dos locais que tocava.
A história se encarregou de apagar esse momento, que como tudo na vida, teve um início e um fim. Mas para mim, tudo estará sempre vivo, dentro da minha memória.
CAPÍTULO 07 - A DESCOBERTA DE UM ESTILO PESADO
O ano de 1997 foi marcado por uma experiência sonora incrível que mudaria minha forma de ver a música eletrônica e descobrir um caminho sem volta. Estava junto com outros dois colegas tocando quinzenalmente num clube anexo a um shopping quando encontrei sobre a mesa de som um CD com detalhes da capa escrito Terrordome. Recordo que o CD não era original (era uma cópia). Já que não havia ninguém no ambiente pois era cedo, como de praxe eu fazia uma breve playlist do que tocar na abertura da noite, tratei de pegar o fone de ouvido e escutar o tal CD. Uma das faixas me chamou atenção. O nome era Technohead - I wanna be a hippy. Eu tive uma sensação muito estranha, como se as BPM's altas me chamassem. Curtia mais e mais as músicas cada vez que elas aceleravam. Sem muito conhecimento do que realmente era, tratei de pesquisar (internet era muito restrita e não havia muita coisa sobre), mas acabei achando alguns pontos: o estilo se chamava Hardcore (Gabba) e o principal evento onde isso ocorria ficava na Holanda (Países Baixos) intitulado Thunderdome. A partir de então iniciei uma busca frenética por este evento, o estilo e tudo que tinha conexão.
Em 1999 já na faculdade e com um computador em casa - usando internet discada - iniciei meu acervo. Com palavras chaves como Gabber, Thunderdome, Hardcore eu baixava algumas músicas através de programas da época como Soulseek (2002), E-Mule (2002), Kazaa (2001), Ares Galaxy (2002) e Napster (1999).
CAPÍTULO 08 - UMA FACULDADE ENTRE OS DISCOS E CD's
Em julho de 1998 havia um novo capítulo em minha vida. Aprovado no vestibular da faculdade de Educação Física da FURB em Blumenau/SC, iniciei a jornada pela profissionalização que levou minha vida a um novo rumo. A vida era tocar as festas fim de semana, estudar e lecionar. Nada mais que isso. Durante os 4 anos em que me dediquei aos estudos, muita gente questionava como conseguia conciliar. Era basicamente fácil. Música pra mim sempre foi "movimento" e se tornou então o complemento da educação física, que era nada mais que "movimento" também. Nesse tempo, acabei tocando várias festas da turma.
CAPÍTULO 09 - EPIDEMIA ELETRÔNICA
O ano de 2001 marcou a cidade por um evento grande, chamado Epidemia Eletrônica. Foram quase 9h de festa na Associação da Artex (Garcia) com vários DJ's. Ao mesmo tempo, a Rave-O-Lution na Rivage já estava consolidada. A diferença entre estas festas era que uma era realizada mensalmente, e outra anualmente.
Em 2002 a segunda edição da Epidemia tornou-se um marco. Foram 10 horas de som!!! Ambos os organizadores eram colegas de longa data, porém quem organizava a lista dos DJ's havia sido um grande parceiro por anos de noite. Após alguns contratempos, eu fui adicionado à lista como aquele que encerraria o evento com HARDCORE.
Outra marca foi a chamada de rádio da festa, que tinha sido uma música já conhecida dos amantes das raves na cidade e na região: Outblast - Masters Symphony. Sim!!!! Houve uma propaganda de festa na cidade com hardcore! E adivinhem quem deu a indicação???? Os melhores momentos da festa com presentação dos DJ's você confere no meu canal do Youtube (Epidemia Eletrôica 2002).
CAPÍTULO 10 - NASCE UM ESTILO "HARD"
Durante o ano de 2000, o mundo ainda vivia uma hype sobre uma tal virada de século, bugs nos computadores e uma imensidão de eventos borbulhando pra todos os lados. Aqui eu buscava mais os CD's que os discos de vinil, mais pela praticidade que eles ofereciam do que realmente pela "vibe" de ter 50 discos sendo carregados numa mala (case) grande e pesada.
Recordo que as coletâneas Underground faziam a cabeça de todo DJ que tocava qualquer festinha e até mesmo os grandes eventos. Eu buscava ainda algo diferente, escutando Trance, um pouco do Hadcore que eu conseguia e o bom e velho Techno que Blumenau respirava nas festas desde 96. Uma linha muito tênue sobre o que seria chamado de Hard Music anos mais tarde. À medida que as batidas aumentavam, eu queria cada vez mais. Já não bastava apenas escutar ou tocar músicas que variavam entre 140 e 150 BPM's dos Techno's e do Hard Trance que brotava de qualquer lugar. Com a melhora da internet e dos computadores as pesquisas foram se aprimorando e a qualidade das músicas foram sendo compartilhadas cada vez mais.
A descoberta de um DJ chamado Scot Project não foi acaso, assim como uma certa idolatria por The Prophet e principalmente Lady Dana, ambos do Hardcore.
Em meados de 2001 até a virada de 2002 vários eventos explodiram na Holanda, entre eles uma tal Sensation, além da famosa Thunderdome que estava próxima da sua edição 10 e outra que dava ares novos intitulada Masters Of Hardcore. Isso para mim era o básico.
Nessa interação toda, um estilo acabou nascendo - o Hardstyle - principal pilar do que sou hoje. Aqui eu tinha encontrado meu caminho, a razão de ser DJ. Os eventos em que me apresentava, acabava fazendo um set mais calmo e ia aos poucos introduzindo clássicas como DJ Isaac - Loving' You, Deepack - The Prophecy, Zenith vs. Avex - I'm Your DJ, Zany - Pure, Trance Generators - You can't stop us.
A partir daqui todos os eventos que eu participava tinha tracks de Hardstyle. Não poderia somente abrir um set ou evento já "metendo pé na jaca". Para fazer o público absorver a essência, eu precisava criar um ambiente que fosse confortável. Fazia incursões pelo Hard Trance, e assim tudo fluía. Desconheço alguém que nessa época tocasse qualquer destas músicas em eventos. Fiz questão de procurar DJ's no Brasil que tocassem o estilo ou que conhecessem, para poder trocar ideias e disseminar o estilo, porém não obtive nenhuma resposta. Daqui, partiu o pressuposto de que não havia ninguém no Brasil tocando Hardstyle desde 2001 como fiz.
Hoje, fico feliz de ver o estilo sendo representado em eventos que estão sendo idealizados no Brasil. Um pouco tarde, mas melhor que nunca!
CAPÍTULO 11 - UM LUGAR PRA CHAMAR DE CASA
Os anos de 2007/2008 e 2009 foram excelentes. Após vários eventos onde pude introduzir um pouco do Hardstyle (early) que eu cheguei a aportar em Joinville/SC numa danceteria chamada Big Bowlling. Haviam na casa 3 pistas de dança e um boliche anexo. Não lembro de ver o local vazio ou "meia boca". Era sempre certeza de casa cheia quando tinha eventos especiais. Ali eu conheci um dos promoters Charles, que por um acaso tinha ouvido falar de Hardstyle, e curtia também. O primeiro encontro com o público foi numa festa chamada DECIBEL, onde todos eram convidados a irem de roupa branca (alusiva e sugestiva à Sensation White). Lembro que era mês de maio.
Dali 6 meses eu voltaria a encerrar o ano com outro evento, também tocando hardstyle. Assim foi, 3 vezes por ano, durante 3 anos seguidos, eu era residente de uma festa chamada Decibel em que o foco principal era o Hardstyle. Obviamente no fim da noite eu retornava pro palco na última meia hora pra tocar um pouco de Hardcore. E sempre tinha alguém na pista até o fim!
Ali eu vi o quanto a público esperava, e quanto prosperou o Hardstyle, a ponto de quase chegar a um status de celebridade.
A partir do segundo evento que toquei lá, comecei a levar alguns CD's gravados com meus set's e algumas tracks da época pro público, sabendo que iam curtir e ouvir. Além da primeira Decibel, que depois virou Decibel White, vieram a Decibel Black (destinada ao techno e ao hardstyle) e a Final Frontier (festa criada por mim também com techno, tech house e hardstyle).
Alguns poucos registros são encontrados na aba Pics e Photos.
CAPÍTULO 12 - UMA PAUSA NA CARREIRA
Até aqui (2012) eu já tinha perdido a contagem dos eventos que tinha participado, direta e indiretamente, praticamente todos como DJ e outros poucos como promoter (Staff). Já tinha rodado o Vale do Itajaí e o litoral norte e também algumas cidades do Paraná e muitas outras de SC. Ainda em 2012 fui a SP a convite de uma turma que criamos via internet, intitulada Hard Stage. Eram alguns DJ's e apreciadores de hardcore e hardstyle. Foi a primeira vez no Brasil que conseguimos reunir uma galera pra realmente curtir um fim de semana numa chácara com BPM's altas. De novo lá estava eu! Em janeiro de 2013 fui convidado por indicação destes amigos de SP a tocar junto com eles num evento chamado INK Festival. Seria um fim de semana (sábado e domingo) num sítio bem afastado da cidade, com local para barracas, comida e bebida e duas tendas. Uma delas seria só de Hard, porém as chuvas na região fizeram um rio próximo aumentar, o que danificou nosso espaço. Então tivemos que montar nossa estrutura no mesmo palco do techno. Sucesso garantido!!!
Esta seria minha despedida com chave de ouro. As festas já estavam diminuindo e algumas casas fechando. O line de artistas estava ficando escasso e muita gente só aparecia no flyer sob muita influência, com cachês cada vez mais baixos e algumas vezes, beiravam ao calote.
Essa era a segunda razão para aposentar os fones de ouvido, desde 1989. A primeira era que eu iria me dedicar à família e aos estudos das especializações na área da educação e da educação física que eu fazia.
2013 foi na verdade uma pausa... não um fim...
CAPÍTULO 13 - UM LONGO, LONGO TEMPO DE SILÊNCIO
Em janeiro de 2013 a convite e indicação dos amigos do Hard Stage em SP fui chamado para o line up do INK Festival. Foram praticamente dois dias muito malucos, com pasto encharcado da chuva do dia anterior e dois palcos. Um terceiro ficou danificado por conta do alto volume de chuva perto de um riacho no sítio onde haveria a festa.
Praticamente ali foi uma despedida oficial dos palcos como DJ profissional depois de tanto tempo armagurando festas que outras pessoas tentavam bancar e não pagavam, isso mesmo, rolava muto calote e os pagamentos não eram respeitados. Nessa última o cash combinado de mil reais mais a passagem de 900 acabou sendo praticamente pra cobrir os custos de viagem.
Dessa data de janeiro em diante me dediquei à família e a parte final da minha segunda especialização. Fiquei apenas com o virtual DJ instalado no meu notebook e ficava brincando com alguns set's gravados nele.
Foi a pausa mais longa na minha vida como DJ.... até 2020.
CAPÍTULO 14 - O RETORNO E AS MUDANÇAS
2022 foi um período pós pandemia. Uma onda atingiu o mundo, deixando todos trancados em suas casas por semanas. A ideia então era inovar e se adaptar. Lives começaram a ser transmitidas de casa, trabalhos remotos, casas fechadas, bares e restaurantes todos com suas luzes desligadas.
Mas focando em 2022, estava apenas brincando com meu computador e o virtual que tinha deixado instalado para fazer alguns set's. Sem controladora, sem toca-discos, sem nada de equipamento. Apenas um fone de ouvido e um aplicativo (programa). Certa noite, recebi um convite bem inusitado de um amigo de infância, desde a época do escotismo, para me juntar a ele e mais 2 outros colegas DJ's para fazer parte de um canal no youtube intitulado BNU Music. Ao contrário do que muitos entendem, BNU é a sigla para Blumenau New Underground. O canal tinha (e tem) o conceito de divulgar nomes da cena eletrônica de Blumenau e da região, através de encontros e pequenos eventos. Como eu estava pilhado apenas no Hardstyle, acompanhando tudo pela internet e baixando músicas, levei um pen drive pra fazer um set de 30 minutos, pois seria 2h de gravação com 4 DJ's.
Ao chegar acabei me deparado com uma controladora DDJ Flx6. A questão é que durante este meu hiato fora dos palcos, a última vez que toquei tinha sido em SP no INK Festival, e com CDJ. Eu não tinha tocado em nehum equipamento durante todo este tempo, tampouco tinha visto a evolução para as controladoras. O jeito foi reaprender. Dois ou três escorregões usando o rekordbox, depois de passar a vida usando virtual no PC, acabei pegando alguns macetes. Diferente de iniciar a carreira numa controladora como muitos fazem hoje, eu estava me sentindo um dinossauro no século XXI usando tecnologias que não tive tempo nem oportunidade de adaptar. Mas foi um aprendizado.
Mais alguns meses eu tive a oportunidade de adquirir uma ddj400, que na época era considerada uma controladora de entrada, com boas opções para começar. E ainda é!
Reaprender, estudar, adaptar-se. Depois de uma CDJ1000 do último evento, passar quase 9 anos longe e voltar apertando botões sem precisar de CD ou DVD foi incrível. Uma evolução sem tamanho.
O grupo cresceu, se dividiu, eu saí com a certeza de ter feito a escolha certa, mas errado em entender os caminhos do DJ nos dias de hoje, retornei e hoje estamos sólidos com uma proposta diferente, na verdade igual ao que a origem era. Estive em sunset's de bares, eventos como encontros de amigos (Stammtisch) e vários outros menores.
Estive do outro lado da turma, numa outra equipe, onde prematuramente me desliguei devido a ocasiões de forte desprestígio nos meus set's e apresentações. Em quase 30 anos eu nunca tinha ouvido críticas pessoais ao meu trabalho e minhas escolhas musicais, mas fizeram isso, e eu entendi que não era mais bem vindo.
Agora de volta ao BNU, consolidado, estou realizando apresentações em estúdio.
Em casa, tenho meu programa semanal chamado Trance Station onde trago a Trance Music e suas várias vertentes em 1h de muita energia.
NOTAS EXTRAS
Quase todo o processo destes 30 anos de carreira estão relatados aqui nesse site, mas engana-se quem acredite que seja somente isso. Obviamente que não! Entre estes relatos muita coisa ocorreu. Brigas, discussões, desentendimentos, egos inflados, erros e acertos. Estive nos mais diversos ambientes, nas mais variadas situações, eventos, cidades, locais com a maior variação de público possível, com luz, sem luz, de noite, de manhã, de madrugada, durante a semana e fins de semana, lúcido, são ou sob efeito de álcool - eu nunca usei nada que não fosse uma cerveja, um wisky ou combinados de vodca e gin - e hoje não suporto nada que não seja uma boa caipirinha e uma cerveja gelada no fim de semana. Nunca, jamais algum entorpecente ou qualquer tipo de droga.
O que faz a minha cabeça é a música de qualidade, é meu estado de espírito, estar no chamado "flow feeling".
Tenho propriedade para argumentar e criticar qualquer coisa ou situação relacionada à música eletrônica na minha cidade ou região. O tempo me deu essa credibilidade.
O resto da viagem, você já sabe! A gente faz o que gosta, e o que interessa é se divertir e viver bem. A vida é um vinil que só tem uma música. Quando acaba, você vai pra capa e volta pra estante.
Esta é a minha vida! Obrigado por tudo!
DJ Hard Lang aka Sonic